quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Enem – “Eles nunca erram, merda!"

6 de novembro de 2010. Sábado intempestivo, de tempestade. O sol não nasceu. O dia não terminou.
Maria Carolina Ribeiro, 25 anos, formada em letras pela UFMG - 2004, professora de Português e Literatura. São 11 horas. manhã nublada. Ela sai de casa, no Barreiro, com destino ao Colégio Arnaldo, Funcionários, Belo Horizonte. O objetivo: realizar a prova do Enem e ingressar no curso de Filosofia na UFMG.
Passaram 40 minutos. São11:40 hs. Tempo suficiente para chegar ao local da prova em dias normais. Em dias normais...
O 6 de novembro é atípico. Cai um temporal. Os 40 minutos não são suficientes nem mesmo para romper o perímetro do próprio bairro. O rádio noticia uma cidade caótica. Árvores caem e interditam importantes ruas de acesso. Falta luz em vários pontos da cidade. A velocidade do carro não ultrapassa os 30km/h. Belo Horizonte está parada. O temporal deixa a visão, da estudante-professora-condutora, turva. Embaçado como o futuro de vários estudantes. Sonhos e expectativas, confusos e incertos, completamente comprometidos pelas águas do azar misturada a muita incompetência.
São 13:10 hs. Chegada ao destino, 10 minutos de atraso. Esperança apoiada na tolerância. Portões fechados. Mais uma vez, venceu a intolerância. Por alguns longos minutos, Maria, junta-se aos seus comuns/iguais. São vários! A cada minuto, o número aumenta. Centenas de estudantes assistem sonhos e expectativas serem barrados por um portão de aço. Lágrimas sucumbem a dor da perda. O maior inimigo não eram as Leis de Newton, os Teoremas de Pitágoras, os Logarítimos, Íons ou Mols. O inimigo era o imprevisto + o inesperado + o acaso + a intolerância + a incompetência organizacional + a falta de sensibilidade + a falta de boa vontade + a falta de inteligência + o mal não remediado = alunos pagam o pato. Equação fácil, mas quase impossível de ser resolvida. Escola nenhuma ensinou o macete para vencer este inimigo. Aliás, a cada dia que passa, se aprende muito mais fora das salas de aula. Maria Carolina conta o que aprendeu...

O que aconteceu naquele dia (06/11/2010)?

Sai às 11:00 hs, com bastante antecedência, porque chovia forte e imaginava que demoraria mais que o tempo normal para chegar. Havia muita gente se deslocando do Barreiro (bairro onde mora) para a região central de Belo Horizonte. Na avenida Amazonas, percebi que o trânsito estava mais complicado que o imaginado. Os carros estavam praticamente parados, todos com os faróis ligados, tempo fechado, chuva muito forte. O rádio noticiava que havia uma árvore caída na avenida do contorno. Era um caos completo! Os minutos foram passando, não conseguia sair do lugar. Mas acreditava que chegaria a tempo de fazer a prova. Até por que, o bom censo apontava para um aumento no tempo de tolerância.

Quando chegou ao destino?

Cheguei às 13:10 hs, dez minutos atrasada. Não pude entrar, os portões já haviam sido fechados. Várias pessoas argumentavam com os vigilantes, com esperança de entrarem, algumas revoltadas e outras desoladas. País e mães, que acompanharam os filhos, visivelmente frustrados tentavam consolar, sem sucesso, os filhos com palavras de fé e otimismo [“não era pra ser!”].

Qual foi o sentimento?

Frustração, tristeza e perda. Lamentei não só por mim, mas também por aqueles jovens. Muitos estudaram o ano inteiro e viam, no Enem, talvez, a única oportunidade para ingressar nas universidades federais e vislumbrarem um futuro melhor.

Acha injusto não terem aumentado o tempo de tolerância?

Claro, não foi um dia comum! A quantidade de pessoas atrasadas, pela chuva e pelo Trânsito, era fora do normal. Faltou sensibilidade e logística aos organizadores. Por que as pessoas não fizeram provas próximo de suas casas? As pessoas do Barreiro, por exemplo, foram fazer provas no centro. E há centenas de escolas na região. A chuva e o trânsito  foram quem provocaram o caos. Infelizmente, desconsiderar isso, foi mais uma falha no sistema de avaliação.

Quais são as outras falhas?

A deficiência está no Ministério da Educação que é o responsável por elaborar e fiscalizar o processo. Além de tudo, há relatos de erros absurdos. Desde vazamento do tema da proposta de redação até prova com 27 questões repetidas e/ou questões em branco. Os fiscais não sabiam como proceder diante dos problemas e os alunos recebiam informações desencontradas. Pessoas fizeram provas portando celular, relógio e até fone de ouvido. Desorganização geral!

Você é a favor da anulação do Enem?

Sim, o exame deve ser refeito para todos os inscritos, para que todos tenham condição de igualdade na prova.

Você tem esperança que o exame seja anulado?

Agora, não mais. O Ministério da educação assumiu o erro em apenas 2 mil cadernos. Acham que se assumirem todos os erros será desmoralizante, como se já não estivesse desmoralizado. Apesar de tudo, torço para que o Enem dê certo.

Por que torce pelo Enem?

Considero o sistema de avaliação muito bom. O método de correção, teoria da resposta ao item, é muito menos injusto e elitista que o vestibular atual. Seria uma evolução na educação do país.

Como professora e estudante de que forma enxerga a educação no Brasil?
 

Acredito no trabalho que faço, houve melhoras em vista do passado. Há tentativas de implantarem métodos de ensino, mais interessantes para os alunos, que fogem do tradicional. Infelizmente, na educação, os méritos são isolados e pertencem a pessoas que amam o que fazem [ex: professores da rede pública, do nordeste ou no interior dos Estados, que lecionam sem condições técnicas]. O ideal seria uma mobilização geral, da sociedade e do governo, em prol de uma melhoria sensível e sólida. Tem de ser uma causa de todos.

Como fica sua situação, fará algum outro exame/vestibular, ou espera até o ano que vem?

Não sei,  fiz inscrição apenas para a UFMG. Talvez, se conseguirem imprimir as provas sem erro, se não houver fraudes ou vazamento de informações e se os organizadores aprenderem com todos os erros dos dois últimos anos, eu tente no ano que vem. Obtenção de novo título seria uma outra alternativa, mas ainda não sei o que vou fazer.



p.s.: Até o fechamento, desta matéria, não existia posição definida sobre o presente/futuro do Enem. Apenas, muitas incertezas e brigas judiciais. Os 6 e 7 de novembro, ainda, não terminaram...

Por João Vítor Ribeiro


Ouça:
Defensor público, do Rio de janeiro, vai ajuizar ação para  que todos os prejudicados tenham direito a nova prova do Enem 2010 (Leia aqui)

Listen!


Leia mais sobre o assunto:

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

João Seixas - Não tem parentesco e não toca Raul. Mas o espírito é solto e as semelhanças não param por aqui...

Para Ler Ouvindo:

   Um cara de opinião, fala abertamente sobre tudo e todos, mente subversiva e voz de mega-fone (herança de família). O grande homem, tem 1,85 m de altura, é amante da música e, principalmente, do Rock. Vocalista e compositor toca o gênero musical preferido e carrega no nome da banda a busca pessoal e permanente pela evolução do espírito, (S.E.T) - Soltura Espiritual Total.
   João Felipe Seixas Viana é a prova de que o ser humano é, sim, fruto do meio, mas também de seus ideais. Nasceu e cresceu na zona sul, de Belo Horizonte, e, muito cedo, descobriu o jornalismo (outra herança de família). Zona sul, sim, mas apenas por questões sócio-geográficas. “Playboy”, jamais!
   Hoje, cursando o 7º período de jornalismo, na Faculdade Estácio-BH, faltando muito pouco para colar grau, João, olha para trás e conta como tudo começou. Olha para frente: lá vem a tal monografia!

Por que escolheu o Jornalismo?

Por causa da minha mãe, ela é jornalista. Cresci assistindo minha mãe, pela televisão, nos noticiários e ouvindo-a, pelo rádio, nos programas.

Este foi o seu primeiro contato com a profissão?

Sim. Mas o primeiro contato direto foi aos 12 anos, quando gravei meu primeiro spot comercial para rádio e, desde então, isso se tornou frequente em minha vida. Tomei gosto e vi que o jornalismo, além da música, seria uma ótima opção.

Em sua família apenas sua mãe trabalha no meio jornalístico?

No meio jornalístico, sim. Ela é a única que trabalhou diretamente com a produção da notícia. Mas meu pai é diretor de imagens, meu irmão, mais velho, trabalha em uma rádio de Belo Horizonte (98 FM) e também tenho um tio que é dublador no Rio de Janeiro. Os meios de comunicação, a mídia, sempre foram assunto familiar e de família.

O que lhe atraiu para o jornalismo, por que não outras funções na mídia?

Acho que através do jornalismo, escrito ou falado, podemos contribuir para um bom funcionamento da sociedade. O fato de poder informar e alertar as pessoas me agrada muito, causa sensação de ajuda ao próximo.

Já pensou qual será o tema do seu TCC (Trabalho de conclusão de curso)?

Pensamos em pesquisar sobre a estrutura educacional do Brasil. Na minha opinião, está, quase, tudo errado. Pesquisaria o tema, discutiria e apresentaria novas formas de aprendizado. Tendo como idéia base, a troca aluno-professor. Faríamos em um documentário usando todas as técnicas jornalísticas e teorias da comunicação aprendidas. Mas o tema não foi aceito, pelo professor orientador, pensaremos um novo assunto.




Por João Vítor Ribeiro